Governar-se para viver

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imagem_lifeA ninguém é mais difícil de obedecer do que a si mesmo. “Não faço o bem que quero e faço o mal que quero”, parafraseando São Paulo. Como governar-se a ponto de não praticar o mal, e como ter autoridade sobre si a ponto de cumprir todo o bem que se quer? Eis a escola na qual tantos estão no primário.

Pedir um treinador, pedir alguém que nos ordene o que fazer e o que não fazer. Tarefa demasiadamente fácil. A quem Deus ama, dá uma tarefa melhor, recomenda que tenha a si mesmo como treinador. Ora, sempre há de se ser dependente? Não, uma hora temos de chegar na maturidade, e talvez devamos ser os nossos próprios educadores. Ocorre que para tal devemos atravessar diversos obstáculos:

Um primeiro é o governo da razão. Fala-se tanto em filmes melosos em seguir a voz do coração, mas pessoas inteligentes agem mais com a razão, claro que também ouvindo a intuição, o que muitos chamam de voz do coração. Acontece que não há garantia nenhuma de que essa voz do coração não seja o resultado de diversos fatores emocionais e psíquicos e que o resultado pode uma péssima decisão. Inclusive, pode-se utilizar esse método intuitivo para justificar más consequências com a máxima: errei, mas agi com o coração. Não se quer dizer que se viva agora como um robô, mas ao contrário, uma inteligência bem preparada sabe compreender e balizar os sentimentos, as emoções, os prazeres, e também a intuição, que pode ser enganosa.

Outro é de uma dificuldade absurda, ainda mais hodiernamente em que tudo é apelo. Desde carros, eletrodomésticos a comida e bebida. A indústria da propaganda não é nada ética e quer que o produto seja comprado a todo custo. A da cerveja, por exemplo, associa a bebida à mulher, num grande golpe baixo enviam essa informação para o subconsciente dos mais diversos consumidores. Não bastasse, tudo o que se tem é apelo por sexo. As pessoas esqueceram que para cada coisa deve ter uma finalidade e, por isso mesmo, o sexo tornou-se um fim em si mesmo. Desse modo, é terrível suportar essa indústria da carne que tiraniza em comerciais, novelas, filmes, programas de TV, sites de internet e inclusive em músicas. A mentalidade luxuriosa adentra nossa mente e nos torna escravo. Difícil demais é, portanto, abrir mão dos desejos da carne em prol da razão e do reto.

Ainda existem todas as limitações psíquicas e emocionais. Cada um tem na sua história de vida diversas situações traumáticas que atrapalharam a sua formação cognitiva, e tornar-se-á escravo desses traumas até que deseje confrontá-los e dar a eles novo significado, o que seja correto. Uma vida pautada e fundamentada na emoção é o desastre total, e temos demasiados exemplos disso, sobretudo nos artistas que acabam no precipício do suicídio. É o sentimento que domina, seja a paixão ou a tristeza, ou infelizmente também o ódio, que obnubila, obscurece a mente de quem o tem. É assim: a paixão nos impede de trilhar diferentes caminhos, a tristeza nos impede de andar, e o rancor, nos retira caminhos. Este último, o pior, delimita o nosso espaço ao em torno de si mesmo.

Se a educação tem um tempo limite, isso tem um sentido: o nossos pais devem deixar de sê-los para dar a nós o seu lugar. Somos nós, daí então, que devemos estabelecer nossos limites, nossos horários, nossos castigos, nossos deveres, nossos direitos e até nossas premiações. O ser humano não pode ser fraco e deixar essa tarefa para Deus, que não deve ter essa função, mas é a primeira cruz que ele mesmo deve carregar: a si mesmo. Quem não governa a si não se pode dar ao luxo de educar nenhum outro ser humano.

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