Os gritos e silêncio de socorro

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depressionMalditos somos quando o mundo inteiro gira ao nosso redor, malditos somos quando nos achamos acima dos outros, quando nos fechamos em nossa soberba e não prestamos atenção nas pessoas que existem além de nós, dos seus gritos e silêncios de socorro.

O que deve passar, lá no fundo de nossa mente e do nosso coração, quando só damos ouvidos aos nossos desejos, às nossas necessidades, à nossa voz? Que carga negativa é essa dentro de nós que prende ao nosso centro toda positividade do nosso ser? Deixamos tantos ao desprezo, às calçadas da nossa vida, e tudo em benefício da nossa vaidade, da nossa soberba, da nossa autoridade, da nossa individualidade, do nosso bem-estar, da nossa “paz”, dessa felicidade egoísta e egocêntrica. Isso gera respostas, reações às quais não damos a devida atenção, que são os gritos e silêncios de socorro.

É um povo de uma nação que vai às ruas dia após dia para manifestar sua insatisfação porque não é ouvido. É um povo que confronta a polícia, que incendeia carros e ônibus, que saqueia, que devolve com violência por causa da violência de não ser ouvido, a violência do desprezo. Do mesmo modo, um povo que desiste de votar e, porque se vê obrigado a exercer o que deveria ser somente um direito, fá-lo em branco ou nulo. É o seu silêncio de socorro por não ter quem o represente e por viver num país abandonado à desonestidade em todos os seus setores.

Mas também é aquele que vive conosco a gritar, a espernear, a nos faltar com respeito, a quebra as coisas no chão e na parede, a irritar-se a todo tempo com uma paciência de canhão. O que, senão a total loucura, faz com que um ser humano com toda a sua alma se preste a tal comportamento? O que faz uma pessoa voltar-se irada contra aqueles a quem mais ama? Não vejo outra razão, senão um pedido de socorro. Do mesmo modo é aquele que se tranca em seu quarto e se permite ser ausente da convivência familiar, ele lança seu silêncio de socorro que insiste em não ser ouvido.

O que custa, em contrapartida, para aquele que ouve esses gritos e silêncio de socorro, praticar um simples ato de amor? É mais fácil o que está dentro do buraco escalá-lo, ou quem está fora estender a mão? Se fomos criados pelo amor, nossa essência é o amor. Se essa é a natureza da nossa alma, todos esses gritos e silêncio são de socorros de amor, de atenção, de um mínimo de audição aos sentimentos, aos medos, às culpas, às aflições que cada um enfrenta e reage da forma que pode. A família, é claro, é o primeiro alvo, porque é o que deveria ser o nosso refúgio de amor.

E o que fazer? Custa-nos, sim, o nosso egoísmo, mas não é pedir demais a nós mesmos que coloquemos para fora o nosso desejo de amar. Não esse amor que virou sinônimo de sexo, mas o amor mais verdadeiro, de procurar dar um pouco de atenção, seja em casa, para quem puder, seja a um amigo ou mesmo a um estranho. De vez em quando, quando alguém vem desabafar conosco, seja na sua infantilidade, demasiada carência ou mesmo na real necessidade, em vez de ouvirmos, somos tentados a dar-lhe a solução. Ora, até nisso nós temos de ser os senhores da razão? Que custa parar e simplesmente ouvir?

O nosso país, principalmente, está doente. Só se pensa na própria razão, na própria vontade, nos próprios argumentos, nas próprias necessidades. Vejam só: o mais comum é médicos que não dão atenção aos pacientes, advogados que mentem sabendo da justiça da verdade, servidores públicos relaxados e preguiçosos, e, por fim e resumindo tudo, políticos que não dão o mínimo de atenção às reais necessidades da população e colocam acima de tudo qualquer coisa que seja seu, seja o bolso, a ideologia, o cargo ou o partido. Definitivamente, estamos doentes, mas doentes sem amor.

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Machismo sexual

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assedio-size-598Quantas mulheres enxerga um homem? A mãe? A vó? A filha? As irmãs? Talvez umas tias e tias-avós? Primas? Primas talvez. Nessas mulheres, pode-se dizer que os homens consigam enxergar o que realmente faz delas mulheres. Mas, em outras mulheres, o que será que veem? Quando veem, o que imaginam? Há algo de essencialmente pervertido e perverso no machismo.

É fora de cogitação dizê-lo? Que muitos homens veem grande parte das mulheres, sobretudo as belas, como objetos de consumo? Dizer que tem o desejo de possuí-la é termo muito vago, na mente masculina a imagem é de alimentação. Por essa razão, inclusive, que alguns maldosos interpretam o fruto proibido como o sexo. Ora, fazer sexo para eles relaciona-se com o comer e, consequentemente a essa relação, a mulher, em vez de pessoa, torna-se objeto.

Algum mal sucedido na conquista dos corações femininos pode pensar: “Ora, mas a mulher também não é interesseira?” – Não se pode arriscar em dizer que o interesse feminino nos homens poderosos e bem-sucedidos financeiramente não tem a ver com o patriarcalismo do passado? Numa sociedade em que só os homens poderiam trabalhar, as mulheres aprenderam a ser dependentes e custa, mormente para as mais desprovidas de inteligência, deixar tal herança genética.

Voltando à mulher como objeto.

Traços eminentemente machistas que corroboram com o raciocínio, nós podemos encontrar nas religiões, inclusive. No cristianismo, só pela herança cultural machista de qualquer sociedade então existente quando da sua origem, porque Jesus rompe com o machismo e trata homens e mulheres de igual por igual, com raras exceções quando dá preferência às mulheres – até mesmo pode se dizer que só tenha escolhido homens para serem discípulos porque seria um escândalo para aquela época. Por outro lado, porque Davi e Salomão tinham permissão para possuírem (possui-se o quê?) tantas mulheres? Obviamente eles não poderiam, de modo algum, dar atenção a todas as necessidades ao menos afetivas de todas elas. Não. Eles eram o centro. E o paraíso das 72 virgens, o que é, senão o corolário da visão da supremacia do homem sobre a mulher, visão na qual a mulher é o objeto do paraíso dos homens?

E hoje, o que mudou, além de que os homens estão começando a ficar com medo das mulheres? Isso acontece porque, da mesma forma que algumas mulheres não se desenvolveram a ponto de se desvincularem da visão do homem como provedor, alguns homens ainda não caíram na real de que não podem continuar os mesmos estúpidos de outrora. Esses homens que querem comer todas, esses homens que procuram uma mulher com único interesse em sexo (lembre-se que quem escreve é um homem que luta contra esta tentação que é cultural). Mas não é essa a razão dos crimes contra a dignidade sexual? Não é por essa razão que acontecem os estupros? Se os homens vissem a mulher como um todo e, especialmente, como pessoa que tem a si o mesmo valor, não cometeriam jamais tais crimes.

É por essa razão que insisto, portanto, na afirmação de que mulher mesmo, na visão desses machistas, é avó, mãe, irmã e filha. Para alguns, a esposa também (para outros mais leais, também a dos amigos). Fora isso, não procuram eles alguém para conversar, alguém com uma sensibilidade especial, que enxerga e sente o mundo de outra forma. Não. Veem, na verdade, um envoltório de prazer. Vê-se pele, cabelos, olhos, seios, pernas e vagina como fonte inesgotável de imensurável deleite. E assim, reduzem a dignidade da mulher por inteiro e a transformam em apenas um meio de se obter prazer e instrumento pelo qual se exerce poder.

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Governar-se para viver

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imagem_lifeA ninguém é mais difícil de obedecer do que a si mesmo. “Não faço o bem que quero e faço o mal que quero”, parafraseando São Paulo. Como governar-se a ponto de não praticar o mal, e como ter autoridade sobre si a ponto de cumprir todo o bem que se quer? Eis a escola na qual tantos estão no primário.

Pedir um treinador, pedir alguém que nos ordene o que fazer e o que não fazer. Tarefa demasiadamente fácil. A quem Deus ama, dá uma tarefa melhor, recomenda que tenha a si mesmo como treinador. Ora, sempre há de se ser dependente? Não, uma hora temos de chegar na maturidade, e talvez devamos ser os nossos próprios educadores. Ocorre que para tal devemos atravessar diversos obstáculos:

Um primeiro é o governo da razão. Fala-se tanto em filmes melosos em seguir a voz do coração, mas pessoas inteligentes agem mais com a razão, claro que também ouvindo a intuição, o que muitos chamam de voz do coração. Acontece que não há garantia nenhuma de que essa voz do coração não seja o resultado de diversos fatores emocionais e psíquicos e que o resultado pode uma péssima decisão. Inclusive, pode-se utilizar esse método intuitivo para justificar más consequências com a máxima: errei, mas agi com o coração. Não se quer dizer que se viva agora como um robô, mas ao contrário, uma inteligência bem preparada sabe compreender e balizar os sentimentos, as emoções, os prazeres, e também a intuição, que pode ser enganosa.

Outro é de uma dificuldade absurda, ainda mais hodiernamente em que tudo é apelo. Desde carros, eletrodomésticos a comida e bebida. A indústria da propaganda não é nada ética e quer que o produto seja comprado a todo custo. A da cerveja, por exemplo, associa a bebida à mulher, num grande golpe baixo enviam essa informação para o subconsciente dos mais diversos consumidores. Não bastasse, tudo o que se tem é apelo por sexo. As pessoas esqueceram que para cada coisa deve ter uma finalidade e, por isso mesmo, o sexo tornou-se um fim em si mesmo. Desse modo, é terrível suportar essa indústria da carne que tiraniza em comerciais, novelas, filmes, programas de TV, sites de internet e inclusive em músicas. A mentalidade luxuriosa adentra nossa mente e nos torna escravo. Difícil demais é, portanto, abrir mão dos desejos da carne em prol da razão e do reto.

Ainda existem todas as limitações psíquicas e emocionais. Cada um tem na sua história de vida diversas situações traumáticas que atrapalharam a sua formação cognitiva, e tornar-se-á escravo desses traumas até que deseje confrontá-los e dar a eles novo significado, o que seja correto. Uma vida pautada e fundamentada na emoção é o desastre total, e temos demasiados exemplos disso, sobretudo nos artistas que acabam no precipício do suicídio. É o sentimento que domina, seja a paixão ou a tristeza, ou infelizmente também o ódio, que obnubila, obscurece a mente de quem o tem. É assim: a paixão nos impede de trilhar diferentes caminhos, a tristeza nos impede de andar, e o rancor, nos retira caminhos. Este último, o pior, delimita o nosso espaço ao em torno de si mesmo.

Se a educação tem um tempo limite, isso tem um sentido: o nossos pais devem deixar de sê-los para dar a nós o seu lugar. Somos nós, daí então, que devemos estabelecer nossos limites, nossos horários, nossos castigos, nossos deveres, nossos direitos e até nossas premiações. O ser humano não pode ser fraco e deixar essa tarefa para Deus, que não deve ter essa função, mas é a primeira cruz que ele mesmo deve carregar: a si mesmo. Quem não governa a si não se pode dar ao luxo de educar nenhum outro ser humano.

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