O desafio da obediência
Pela desobediência se perdeu a união com Deus, e pela obediência ela foi recuperada. A obediência é qualidade intrínseca de Cristo, enquanto a desobediência é marca dos soberbos, os filhos bastardos de satanás. Essa soberba, esse desejo reiterado de ser deus, de ser centro, quando não se pode ser, pode não ser geradora de todos os males, porquanto materialismo e sensualismo andam por outras veredas, mas gera os piores. Ela que levou o homem e a mulher, tratados como Adão e Eva, a desobedecerem ao mandamento de Deus. O que há de histórico nesta história é impossível saber, mas ela contém a maior de todas as verdades. Foi a desobediência que nos separou de Deus, e é a desobediência que nos impede de novamente nos unir a Deus pelos méritos de Cristo.
A Jesus não se sabe se foi fácil obedecer, sabe-se que foi sempre e em tudo obediente. Apesar de ser perfeito na obediência, não precisava, até onde se sabe, de um mínimo de hesitação. Filho de José e Maria, aquele sendo um homem justo, e esta sendo a Imaculada Conceição, o modelo perfeito de mulher. Quanto a isso, era “fácil” a Jesus obedecer, porque não havia autoridade a quem se submetesse, em seu seio familiar, que o ordenasse algo fora do esteio divino. A nós, por outro lado, temos nossas dificuldades. Nós homens estamos repletos de pecados, repletos de erros. Dito isso, é importante ressaltar o seguinte, para que não se engane:
É impossível ao homem ter a perfeição da obediência de Cristo. Por mais que vigiemos, por mais que rezemos, sempre pecaremos. Por isso, que não se interprete mal a se pensar que a Cristo era fácil obedecer literalmente, mas que Ele não era sujeito a autoridades falíveis, eis a diferença. O nível de obediência a que Ele se submeteu homem nenhum jamais será submetido. Aliás, ninguém é Deus para, por obediência, morrer pelos homens. E, claro, se fosse pedido para algum homem, que não Jesus, a viver a obediência que ele viveu, nenhum seria capaz. Posto isso, vamos à questão da falibilidade.
Que tudo fosse conforme a vontade de Deus, que tudo Lhe fosse obediente, eis o Céu. Na terra, entretanto, as coisas não funcionam assim: os homens são em maior e menor medida falhos e também vaidosos, egoístas e toda uma infinidade de defeitos que aqui se possa apresentar, sem falar da maldade que dissipa a luz de muitos corações. Acontece que em todo lugar há relação de hierarquia, de sujeição, de autoridade; em todo lugar há quem mande, e quem obedeça. E o cristão como deve ser? Semelhante a Cristo! E Cristo era o quê? Obediente! Obediente a quem? A Deus. Cristo morreu por ter sido desobediente aos chefes de sua religião, aos sumos sacerdotes, que queriam que Ele se calasse. Não sabiam os sumo-sacerdotes que era o oposto que devia acontecer, e Jesus pagou por isso.
Então, como ser obediente diante de todas essas realidades? Eis o desafio para o qual é preciso muita coragem e muito discernimento. Precisamos analisar bem cada coisa; cada ato é um desafio propriamente ético de, em cada circunstância, verificar qual a opção que cabe. A opção que cabe, para o católico, é a vontade de Deus. A questão é quando se entra no dilema entre quando obedecer (virtude cristã) e quando desobedecer (virtude de alguém corajoso). A resolução se encontra quando entendemos que o cristão nunca deve desobedecer, mas sempre obedecer, e obedecer a Deus. Para tanto, o católico vai precisar dizer alguns nãos a autoridades temporais que, porventura, afrontarem claramente ao que seria ordem de Deus.
A ordem principal sempre vem de cima. Para nós, os mandamentos. Depois vem o Catecismo, o Código de Direito Canônico, as regras de ordens, congregações e comunidades, as autoridades locais e imediatas e assim por diante. O que importa é: nenhum pode desobedecer o principal. Qualquer um, até o papa, que ordene algo diferente do que é ensinamento tradicional na Igreja, algo absurdo mesmo, como já houve na história da Igreja, não deve ser obedecido. Um bispo que dá uma ordem, por menor que seja, em desobediência ao papa, não deve ser obedecido. Um sacerdote que dá uma ordem, por menor que seja, em desobediência ao bispo, se o bispo estiver em obediência à Igreja, o sacerdote não deve ser obedecido. O importante é ser obediente a Deus, e o que representa a Deus na terra é a Igreja. Portanto, importa ser obediente na Igreja. Muito raramente (infelizmente já houve na história e se sabe disso) a Igreja vai de encontro ao Evangelho e aos mandamentos.
Há quem possa dizer: “Ah, a Bíblia vem em primeiro lugar...” – Entendo que não. Foi a Igreja que fez a Bíblia e não o contrário. Além disso, cada um pode interpretar algum versículo da Bíblia a seu modo e tornar-se um obediente somente a si, fugindo de qualquer sujeição e vivendo o Evangelho a seu modo e, pior, à revelia, independente. A obediência deve ser, sim, à Igreja e à sua devida hierarquia, salvo, como se entende claramente, alguma ordem contra a moral e a ética cristã, além dos mandamentos de Deus e dos ensinamentos da Igreja. O que estiver fora desse âmbito não recai neste critério.
E o que está fora desse âmbito? Quanto a ordens específicas de superiores, a regra é a da obediência sempre, exceto a impossibilidade evidente de se cumprir. Nesse âmbito, toda autoridade é mesmo decidida por Deus e toda decisão sua está, queira ou não, sujeita aos seus planos. Diga-se isso das autoridades espirituais e eclesiásticas, não das civis. Quanto às civis, no que não contrarie a moral e os bons costumes, devemos também obediência, como já está muito bem explicado no Catecismo da Igreja Católica. Mas, é importante ressaltar que a autoridades imediatas sempre se deve obediência. Claro que cabem exceções, como a saúde, deveres morais, deveres civis e coisas do tipo. Quanto a isso, muitos exemplos de santos atestam o agrado de Deus com os obedientes e silenciosamente obedientes, presenteando-lhes, inclusive, com milagres.
Uma coisa é importante ressaltar: nenhuma autoridade pode interferir em situações de domínio pessoal. Ninguém pode decidir a vocação de ninguém, nem sua forma de vida, nem com quem vai se casar, nem se vai se casar. Há coisas que só conferem à liberdade pessoal.
Portanto, quem obedece a Deus nunca erra, mas quem obedece aos homens, dependendo da ordem, erra sim. Para quem quiser acertar, recomenda-se: coração em Deus, muita fé, coragem e boa sorte contra os inimigos e as perseguições que encontrará pelo caminho, mas que saiba que no final do caminho há uma coroa.
Frozen – Uma aventura congelante
Depois de ter assistido esse maravilhoso filme da Disney, não me contive em inaugurar esse novo espaço do blog. Chegou o momento de dizer que, de agora em diante, irei comentar alguns filmes que assistir nos cinemas da vida, ou quem sabe fazer alguma indicação de outro filme que já tiver saído de cartaz há pouco ou muito tempo. Como é o primeiro texto, não esperem muita organização de pensamento, vejam só um ponto de vista diferente, mais na questão que mais amo em perceber em filmes: valores. Vamos lá!
No começo, parecia um musical. Nunca me agradei tanto de musicais, por achar que era um musicalizar tudo. Embora ame música como muita pouca coisa nessa vida, sempre me cansei ao ver musicais. Mas, eu amei as partes musicais de Frozen: os duetos, as harmonizações em terças e quintas, a naturalidade inclusive dos graves masculinos no início do filme, e o agudo final extremo (e no lugar e na hora certa) da música em que acabou a parte musical. Perfeito! Mas vamos para a parte importante!
A carga simbólica do filme é extraordinária (que se preste atenção nas figuras e nas cores de vários momentos)! E são muitos pontos que podem se exaltar, por isso, para concorrer com a brevidade do texto, vou focar nos mais importantes, os quais devemos levar para a vida inteira.
Uma coisa pode passar despercebida, mas creio ser de extrema importância: a capacidade de utilizar os dons para o bem ou para o mal. Até mesmo antes disso, há de se ressaltar a necessidade de utilização dos dons. Muitas coisas podemos achar que temos de mal, e que por causa disso devemos nos esconder, mas o luzeiro não pode se esconder debaixo da mesa. Os dons são feitos para serem utilizados, e são da maior diversidade possível! Que ninguém tenha medo de ser especial. Aceitar a vocação, seja ela grande ou pequena, é algo estritamente necessário para a nossa conformação conosco mesmo. Ao contrário disso, vive-se em completo desespero, na busca de ser alguém que não se é.
Continuando. Após a revelação do dom, houve o problema, em virtude disso, da falta de preparação, da falta de sentido. A personagem, com o seu imenso potencial, foi causa de destruição e aflição para todo aquele ambiente. A vida de todos ao seu redor dependia de si, e o egoísmo dela, a fuga dela para viver numa vida diabolizada, voltada para si mesmo, só causava mais medo a todos, que começavam a temer pela própria vida. Para nossa felicidade, digo de mim, do meu cérebro e da minha alma, a alteza descobre como controlar, direcionar, como dar sentido ao seu potencial, ao seu dom, e sua vida adquire uma realização que nunca antes teve. Ela viu-se feliz, porque descobriu no amor, no esquecimento de si, no voltar-se para o outro, o calor que faltava em sua vida. Aí pôde, enfim, utilizar seu talento, não mais para a morte e a destruição, e sim para a alegria e o bem de todos.
E aí está o maior mérito do filme, na revelação do verdadeiro sentido do amor. Revelação, diga-se, a termos de filmes da Disney, a termos de contos de fadas. Quanto a isso, para os adultos, houve a maior quebra de expectativa da história! – Degustem o sabor das hipérboles... – Todos (inclusive os personagens) esperavam um desfecho diferente e viram-se totalmente surpresos com o que se apresentou! Acontece que o verdadeiro amor não se descobre do dia para a noite, acontece que o amor verdadeiro não é uma mera combinação, acontece que o amor verdadeiro não é somente um amor romântico entre um homem e mulher que os fará felizes para sempre. Aliás, isso é a maior mentira!
O amor, segundo Frozen, e segundo Jesus Cristo, é doar-se até o fim. Como disse este último, o Amor encarnado: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”. (Jo 15, 13)
Este filme, como se nota, é mais do que recomendado. Nota 11, de zero a dez.
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