Os "mártires" da contemporaneidade

Nenhum comentário

sebastian Vivemos no tempo em que há mais mártires na história da Igreja. Mas, isso não é catastrófico, em minha opinião. A população alcançou 7 bilhões de pessoas. Cem mil cristãos morrem martirizados por ano, segundo pesquisas. Já segundo cálculos da ONU, mais de 2 milhões de pessoas morrem de fome a cada dia, em 2003, num ano só, 841 milhões de pessoas morreram de fome. Isso é um fato de se alarmar, qual seja? Que alguns cristãos estão preocupados mais com os mártires, coisa que deveria ser uma honra, para um cristão, do que as pessoas que estão com fome. Por que esses números são supervalorizados, o do martírio, por alguns formadores de opinião, em detrimento da fome que existe no mundo? Algo está muito errado.

Nós, Igreja, estamos vivendo um processo de autovitimização terrível. Olhamos muito mais para os insucessos do que para os sucessos. Se não concordam em tudo conosco, é perda total. Se não concordam conosco, são nossos inimigos. Será que a Igreja precisa ser ainda mais perseguida para que nós acordemos que a nossa missão e razão de viver é o amor, e o amor não se preocupa consigo, mas com o outro? Será que se nós nos preocupássemos mais com as pessoas que morrem de fome do que com o nosso ego cristão de sempre ter de estar por cima, seríamos perseguidos da mesma forma?

Se um cristão reclama de perseguição, e assim me acuso também, isso demonstra que ele ainda não acordou para o que é ser cristão. Ser perseguido deve ser uma honra, não motivo de reclamação e vitimização, assim como fazia São Paulo. Parece que nós, cristãos, também estamos com a depressão que assola o mundo, que nos faz deixar de enxergar o outro e ficar só preocupado conosco mesmo e com o nosso próprio sofrimento. Ficamos como que deitados na cama e trancafiados dentro de casa, sem ânimo de sair e ver o mundo lindo que há do lado de fora e com preguiça e sem coragem de enfrentar os desafios que ele nos propõe.

Ser perseguido deve ser uma coroa, porque autentifica nosso ser cristão. Entretanto, precisamos diferenciar perseguição espiritual de perseguição provocada. Muitos de nós saímos falando aos quatro cantos do mundo palavras ofensivas e depois vamos reclamar de perseguição. Na verdade, não fomos nenhum pouco cristãos desde o princípio. Se proclamássemos somente palavras de amor e de bênção e mesmo assim fôssemos perseguidos, como acontece ao Papa, aí sim, poderíamos nos honrar sabendo que somos verdadeiros discípulos de Cristo. Ou ainda, que estamos próximos de sermos cristãos verdadeiros, ou seja, outros cristos.

É hora de revestimo-nos da virilidade própria de um cristão autêntico e deixar de nhenhenhém! Temos que ter a têmpera dos mártires, aceitarmo-nos na cruz que é própria de ser cristão e enxergarmos que não somos perseguidos por pessoas, não temos homens de carne e osso como inimigos, mas principados e potestades do mal, que estão espalhados pelos ares, conforme ensinamento de São Paulo. A batalha é espiritual, não somente ideológica. Devemos acordar para a honra de ser mártir, coisa que deve ser visto como um presente de Deus, poder morrer como Ele morreu, na cruz, e injustamente.

Nenhum comentário :

Postar um comentário