Crítica à Responsabilidade

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Vivemos em risco, podemos dizer que o único que não corre risco é aquele que está morto. Corremos todo risco em casa ou na rua, acordados ou dormindo. Pela vida afora sofremos danos ou benesses, casual ou propositadamente. Em algumas coisas somos agraciados pela sorte ou visitados pelo azar, sendo muitos deles causados por outrem, objetivamente falando, ou até por algum evento da natureza. Quando um dano nos é causado por evento da natureza não existe problema algum, não se pode responsabilizá-la - é loucura revoltarmo-nos contra uma chuva de granizo ou terremoto. O problema está quando um dano é causado por alguém ou algo de alguém.

[A teoria do caos e as razões pelas quais as coisas acontecem não trataremos aqui, é algo muito mais profundo e complicado, seremos objetivos e naturais, o sobrenatural fica para a próxima bem distante.] – Até porque no natural todo mundo acredita.

O grande problema da responsabilidade, no meu ponto de vista, é quando responsabilizamos a quem causou o dano sem a intenção de produzir o resultado. Porque quando a natureza nos causa prejuízo nós aceitamos, e quando alguém nos causa sem querer, este tem que reparar? Este é o grande problema da sorte ou azar! Quando temos sorte, temos como nossa, ou seja, quando alguém ou algo nos causa lucro querendo ou não, temos esse lucro como nosso. Mas, quando um indivíduo nos causa prejuízo querendo ou não, rejeitamos este prejuízo, ou seja, queremos ser reparados de qualquer maneira.

Imaginemos o mesmo fato fortuito: Você está andando e, por acaso, tropeça e cai por cima de alguém. Automaticamente pedirá desculpas. Mas, se neste momento em que você derruba a outra pessoa você a salva de uma bala perdida? Ela te agradecerá! Se no primeiro caso causou prejuízo econômico, ficará compelido moralmente a reparar. Alguém me responde por quê? É o mesmo fato! Estamos demasiadamente preocupados com o bem afetado, e desacreditamos na sorte ou azar ocasional. É justo alguém responder por prejuízo que não buscou produzir?

Sou severamente contra toda responsabilidade culposa, é uma maneira de rejeitarmos o acaso. Entendemos inconscientemente, por esse meio, que o mundo tem que girar ao nosso redor. Queremos maquiar o risco que sofremos desde nossa concepção. Razoável seria, acredito, que nós considerássemo-nos como mais um elemento deste mundo, sujeitos até mesmo à seleção natural.

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Da Sorte ou Revés

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Quem dera entendesse porque as pessoas tratam os dois casos diferentemente. Falo da sorte e do azar, estes que nos acompanham ao longo da vida e determinam constantemente nosso destino sem perguntar qual a nossa vontade. Talvez seja esta a resposta para tudo: as coisas não acontecem segundo a nossa vontade, e nos acontecem "fortúnios" ou infortúnios que independem de nossa permissão. Uma coisa é certa: o mundo nunca deixa margem à justificativa.

A sorte é um bem-vindo presente, louco é aquele que a rejeita. De quem é seu mérito? Geralmente, quando se é afortunado, retêm-se o mérito, como que disséssemos: "A sorte é minha!" - Nunca vi um competidor rejeitar um troféu porque este foi conquistado por pura sorte. Foram assim várias corridas do grande Michael Schumacher, por exemplo. Se encontrarmos algum objeto que nos interessa, logo afirmamos: "Isto é, ou res nullius, ou res derelicta!" Ou seja, coisa de ninguém, ou coisa abandonada. Só porque o destino nos depara com tal bênção, dizemos: "É meu!" E não largamos a sorte.

Já em relação ao azar, não é o que acontece. Recebemo-lo com murmúrios e lamentações, quando não por revolta ou indignação. Mesmo este sendo, assim como a fortuna, um simples acontecimento caótico, tratamo-lo como se não nos pertencesse, e fazemos de tudo para que desapareça. Em vez de arranjarmos algum artifício para nos apropriar deste mal presente do destino, abusamos dos sofismas para afastar-nos dele e fazemos uma altruísta doação. Nossa fala é: “Isto não me pertence!”

Esquecemos, no entanto, que as duas possuem a mesma origem, ambas são ”presentes” do destino. Qual a diferença de, enquanto estamos à sombra de uma mangueira, cair uma manga em nosso colo enquanto famintos, ou se esta caísse em nossa cabeça enquanto dormimos? Aquela é bendita e esta maldita! Nem um, nem outro. Nos dois casos, aconteceu, ponto final.

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Do Reconhecimento

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É inato ao ser humano, acredito, querer ser reconhecido pelos atos. Não acredito que se trate de vaidade, mas uma espécie desta, acredito não ser digno de falar sobre vaidade, talvez um dia seja. Comecemos, pois, nosso pensamento.

Creio que não busco reconhecimento em meus atos, para melhor dizer, não ajo para ser reconhecido. Não escrevo aqui com o propósito de ser dito um grande pensador, alguém notável de quem as pessoas sejam dependentes intelectualmente, mas uso a escrita como um meio de lazer, fazendo aquilo que mais gosto, pensar e fazer pensar. Não há nada ilícito nisso, há?

Todavia, para variar um pouquinho nas conjunções, confesso que se não reconhecerem, ou reconhecessem o que escrevo, o que faço em geral, geraria em mim um desgosto. Sou uma pessoa extremamente perfeccionista, tento fazer tudo bom para todo mundo, e não ser reconhecido por isso pode me adentrar em um estado depressivo. Eis o perigo.

Quem irá nos reconhecer? Em primeiro lugar, como pode alguém que não tem conhecimento jurídico reconhecer atos de um jurista? Só podem nos reconhecer pessoas que estão no mesmo nível. Se estamos num ninho de cobras venenosas, qual irá reconhecer nossa tenacidade? Entre leões, qual irá reconhecer nossa humildade? Entre pássaros, qual irá reconhecer nossa submissão? Ainda mais. O ser humano, deferente dos animais, possui a capacidade de invejar, consciente ou inconscientemente. Qual irá nos reconhecer? O ser humano é tímido, tem bastante dificuldade, em geral, de expressar aquilo que está guardado em seu íntimo. Quem irá nos reconhecer, então? O reconhecimento que deveria bastar é o nosso, e este ainda é perigoso. Deveríamos pensar como São Francisco, que depois de uma longa e eficiente evangelização dizia: "Pouco ou nada fizemos!"

Desligue-se deste mal! Renuncie a esta vaidade se quer ser alguém feliz e realizado. Não busque nem espere reconhecimento, seja humilde consigo mesmo. E se for reconhecido, procure não se apegar a estas palavras, para que você não caia novamente na vaidade. Não seja o centro de sua vida, pois certamente irá decepcionar-se consigo mais do que com os outros.

Não nego que é difícil, mas o que podemos fazer? O mal é a cegueira! Aquele que enxerga a si mesmo, mesmo que seja difícil o obstáculo, tenta desviar. Como sabemos empiricamente, quanto mais cedo se visualiza um obstáculo, maior é a possibilidade de desviarmos dele. Se o obstáculo for intransponível, Deus tudo pode. O único obstáculo intransponível é a morte, sem ela não vemos a Deus.

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